Eventos comemoram o centenário de um dos maiores símbolos da cultura brasileira
Por Ana Carolina Silvério e Daniela Costa
Um dos maiores símbolos da cultura brasileira, se estivesse viva, teria completado 101 anos em fevereiro de 2010. Para marcar a data, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba são algumas das cidades que desde o final do ano passado promovem uma série de eventos em homenagem ao centenário de Carmem Miranda, que levou para o mundo a imagem de um Brasil alegre, exuberante e também exótico.
Em São Paulo, a pequena notável foi tema de enredo no carnaval.: “100 anos de Carmem Miranda no Lavapés de Madrinha Eunice”. Primeira escola de samba fundada em São Paulo, em 1937, Lavapés foi constantemente embalada pelas marchinhas de Carmen. Madrinha Eunice, fundadora da escola, possuía um carinho especial pela baiana e, aproveitando seu centenário, investiu em um enredo que relembrou a ligação da antiga amiga com a escola.
Ainda em São Paulo, a semana de moda Fashion Week também buscou resgatar Carmen Miranda, com o tema “Brasileiríssimos”. O objetivo foi promover a brasilidade, abordando assuntos como a hibridização cultural do país. Segundo críticos, o evento realçou a leveza e a alegria do povo brasileiro.
O Rio de Janeiro, cidade que projetou a artista para o mundo, homenageou a artista com a peça “Miranda por Miranda”, em cartaz até dezembro do ano passado no SESC Ginástico. “Focamos em suas raízes. Ela foi à frente do tempo, impulsiva”, afirma Stella Miranda, 60, atriz, diretora, jornalista, autora do roteiro da peça, e intérprete de Carmem Miranda no espetáculo que tem direção de Miguel Falabella.
Já Curitiba organizou um baile de carnaval com o tema “Viva Carmen Miranda”, no Hotel Mabu Thermas & Resort. Entre outras atrações, o evento contou com concursos como o de melhor fantasia e o de bloco mais animado.
A quantidade de homenagens revela a importância do trabalho de Carmem para a identidade nacional. Para muitos críticos, ela representou o Brasil em forma de mulher. Com a expansão do mercado de entretenimento na década de 1930, através do cinema e do rádio, a arte da baiana estendeu-se para o mundo. O carisma da baiana criou raízes na cultura brasileira e ainda é celebrado hoje, 55 anos após sua morte.
A série “Alô... Alô? 100 anos de Carmen Miranda”, por exemplo, disponibilizada no ano passado pelo Centro Cultural do Banco do Brasil, tratou do mito e das verdades sobre a cantora. Entre blocos e canções célebres, o evento contou com relatos de especialistas sobre a trajetória da intérprete, apresentando várias facetas de seu repertório com histórias que datadas desde os primeiros anos de carreira até a presença de seus sucessos mais marcantes na Broadway e em Hollywood.
Em relação à Carmem, as opiniões divergem. Aos 87 anos, Francisca Gonçalves Costa afirma ser impossível esquecer a baiana e relembra a popularidade e a polêmica que a acompanhavam. “Segui-la era ser moderno, mas perigoso também. Os pais a consideravam má influência, como se seu jeito e suas roupas mudassem o nosso caráter. Ouvia as músicas escondida na casa de uma amiga”.
Já para a jovem Marcela Silva, 22, estudante de direito, Carmen não possui um peso significativo na sociedade hoje. “Somente tive contato com uma ou duas de suas músicas. Sei pouco sobre sua carreira, mas sei identificar sua aparência perfeitamente; afinal, fantasias e imitações foram as únicas coisas que sobraram de sua fama no Brasil”, afirma.
Símbolo do carnaval brasileiro e uma das criadoras de uma identidade nacional, Maria do Carmo Miranda da Cunha inspirou seu personagem, com gírias e expressões das rodas boêmias de sua época. Baseando-se nos trajes das baianas que utilizavam cestas de frutas na cabeça, Carmen criou um personagem sorridente, repleto de badulaques e com a boca sempre pintada de vermelho. Os movimentos das mãos, o deslizar dos quadris e o revirar dos olhos verdes tornaram-se suas marcas registradas.